sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

O Parque Eduardo VII (continuação)




(...)Com sentido da realidade Keil, mantém as pré-existências morfológicas e desenvolve uma solução de conciliação, prolongando visualmente a Avenida e rematando-a no alto da cumeada com um imponente edifício de carácter cívico. Este espaço no topo da Alameda assumido como acrópole da cidade, sob a qual se estende um tapete verde que leva a vista até ao Tejo, recupera a ideia de miradouro monumental e de passeio público magestoso e repousante. Parque de vocação urbana e monumental com 30 hectares, Keil pensou-o como Parque Central de Lisboa apoiado e dinamizado pelo mais digno equipamento: o Palácio da Cidade, implantado na acrópole, justificação retórica de um sentido de grandeza civilizada.

Sobre o eixo aberto da avenida, desenha a Alameda Central relvada, ladeada por passeio em calçada à portuguesa, dividindo o parque em dois sectores de verde mais arborizado e denso. No lado ocidental redesenha o lago, reordena a Estufa Fria e projecta a entrada junto à margem. No sector oriental desenvolve uma sequência de estadias. O conjunto deveria ser rematado pelo Palácio da Cidade implantado no espaço de acrópole miradouro marcado pelas colunas monumentais. Pensado como sede de todos os serviços culturais da Câmara, com salas de exposições e auditórios, o Palácio da Cidade foi pretexto para a eterna luta dos espíritos mais tacanhos, retrógrados e reaccionários da cultura portuguesa.

A discussão sobre a arquitectura do Palácio da Cidade radicalizou o confronto entre os mentores do regime e os defensores de uma arquitectura despojada no seu rigor clássico que apontava para uma nova monumentalidade. Inspirados nos traçados urbanos de Washington que visitara, Keil elaborou diversos estudos com a preocupação de renovar o sentido de monumentalidade. Na verdade, o topo norte do Parque Eduardo VII transformou-se num local mítico entre o frustrado Palácio da Cidade, a colunata triunfal e a estátua que não passou do pedestal.

in: Ana Tostões - Monsanto, Parque Eduardo VII, Campo Grande, Keil do Amaral arquitecto dos Espaços verdes de Lisboa, Lisboa, salamandra, 1992.



Triste, inútil e abandonada.

Mesmo ao lado o selecto (e inapropriado para o local) clube VII (ver aqui)

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